sábado, 23 de outubro de 2010

Horizonte desperto

Depois do passado,
o futuro adquire
um pêndulo saturado,
numa peça errada.

Uma guerra sentada,
um passo que não se quer,
uma onda parada
que é, nem sequer.

Quando sopra inata
a inocência preciosa,
desperta o rei adormecido.

Uma nuvem fada,
horizonte coisa harmoniosa,
que não cai, nunca cai, no esquecido

terça-feira, 19 de outubro de 2010

El amour

O diabo o que quer não compra,
nem reclama.
O que o diabo exerce não assombra,
quebra não faz chama.

O amor não abre, arromba
sem sinais de artimanha.
O amor mostra e exibe em montra,
não mata, tem ponta romba.

Cede às nuvens o tronco,
cede o calor pelo frio,
não se cobre é coberto.

É pesado vestido de bronco,
vê pouco, sente estio,
morre um pouco fechado, um pouco aberto.

domingo, 10 de outubro de 2010

O vento que pára

O vento que pára, vento sopra
chuva cai, chuva que morta
alma fria, alma morta
coisa inerte, dia que é obra.

Águas lisas, um mar tropa
um torpor fictício,
uma sonda, um fantasmagórico guiso
o som da derrota.

Faz pensar o não existente
como quem pensa vida,
numa densa morte.

Como quem pensa morte
num efémero absorvente,
de vida em pouca vida.